O
MINDINHO
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Felipe
Lenhart
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O mindinho é uma incógnita. Por que mindinho, se em verdade ele é o dedo mínimo? Que origem teria este adjetivo, que de tão diminutivo chega a ser hediondo? São questões que não me disponho a responder. Especular sobre este assunto é algo absurdamente maçante - eis a regra. Vamos, pois, às exceções. Por exemplo, o mindinho mais famoso do planeta, você sabe qual é? Arrisco dizer que vive no Brasil e nasceu na Paraíba. Veio à luz forte, gordo e vistoso, com pinta de galã. Ainda na juventude, contudo, abandonou a cidade natal (que sabe-se lá qual é) e meteu-se em um pau-de-arara caindo aos pedaços, rumo à eternidade. A História o recrutava, e ele, apesar de complexado, desde criança, por ser o fatídico dedo mínimo, cedeu. E deu sorte. Arranjou-se como pôde, bicos aqui e ali, até que se especializou (o que aumentou sua auto-estima) e virou metalúrgico. Daí em diante todo mundo sabe o que aconteceu. O maquinário das fábricas do ABC paulista deu fim ao pobre mindinho paraibano. Mas a História, mãe do mundo e do Pai-Nosso, fez enterro digno de fidalgo para o tal do dedo. Nas mais notórias rodas políticas, ele é acusado de mil e uma sandinces, de radical a entreguista. Os debates são acalorados, quase sempre acabam em briga. O certo é que o dedo mindinho do Lula é uma unanimidade nacional, convenhamos... E quando o presidente de honra do PT estende a mão esquerda para as câmeras de TV, todo o povo vê o mindinho ali, inteiro, gritando palavras de ordem para um inimigo atualmente tão invisível como ele. Há outros aspectos interessantes na vida de tais "dedinhos". Uma boa função para eles é a de não servir para nada, ou não. Quando vamos tomar um cafézinho, ele fica ali, ereto, suspenso, inútil. Não incomoda; é até sensual nas mulheres, dizem uns. Já aos músicos, em especial violeiros e guitarristas, é imprescindível. Um Lula instrumentista não daria certo, seria péssimo. Quanto aos escritores, depende. Se a pessoa digita com apenas o dedo médio e com o "pai de todos", quem sabe o "dedão" para bater espaço, aí o mínimo chega a ser chato. Em casos extremos, um empecilho: sem ele as mãos ficariam mais leves, mais ágeis. Aos fumantes, imprestável. Aos pintores, indiferente. Aos cronistas... é bom que continue ali, no canto da mão, sem reclamar, servil quando necessário e atento ao descansar, vivendo entre páginas de Rubem Bragra e nos confins de Passárgada. Isso, penso eu, basta. E bastante. |
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