PAZ
ESPALMADA
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Beto
Muniz
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Gente adulta só complica só complica as coisas. Um juiz indeferiu a ação indenizatória de um trabalhador que teve o dedo mindinho amputado pela máquina que operava. O magistrado decidiu contra o metalúrgico alegando que o dedo mindinho não tem utilidade prática, e ainda, de acordo com teorias recentes sobre a evolução, o Mindinho tende a desaparecer. Pode parecer brincadeira mas é sério! O homem que deveria tomar decisões direcionadas ao bem comum e felicidade dos povos, esquece as suas funções e raízes ao lançar um despropositado anúncio de desesperança e caos. Não estou exagerando, esse juiz esqueceu a própria infância. Só assim se explica o disparate de imaginar a extinção do Mindinho em nossas vidas. Quem não enumerou os dedos da mão numa cantoria de infância? "Mindinho, Seu vizinho, Pai de todos, Fura bolo e Mata piolho". Extinto o Mindinho o "seu vizinho" não seria mais vizinho... Vizinho de quem? Acabou-se a brincadeira e os momentos de afinada felicidade. Só pela tentativa de cancelar um inocente aprendizado, esse homem das leis já deveria ser censurado, mas ele vai além; esquece que através do Mindinho todos nós aprendemos o caminho da paz. Não venha com esse ar de espanto! Você também esqueceu o tempo em que o Mindinho nos conduzia ao encontro da paz? Lembro que bastava beijar os dedos Fura-bolos em cruz dizendo: "Bem-belém, nunca mais fico de bem" e pronto... Inimigos. Sem os Mindinhos para desfazer essa jura seríamos inimigos para sempre! O Seu vizinho - que não seria mais vizinho - apesar de ser o dedo do compromisso não teria capacidade suficiente para promover a amizade, poderia até complicar as negociações de paz. O Pai de todos não daria certo também, pois o mindinho, tão pequenininho, parece ser o único dedo da mão com humildade bastante para ceder sempre em prol da amizade. Não te parece que o Pai de todos tem a mania de ser o maioral? O Fura-bolo até que teria alguma chance, o problema é que ele pode estragar todas as negociações com essa mania de apontar falhas e defeitos alheios. Aliás, ele é o dedo da jura, lembra? Sem contar a gulodice... é o dedo que mais rouba cremes e coberturas de doces. O Mata piolhos nem tem chances, o nome já indica que ele é o dedo feito para destruir, matar. Se bem que é ele quem acena quando está tudo jóia. É ao mesmo tempo positivo e negativo. Um dedo indeciso. Enfim chegamos a dura constatação de que sem o Mindinho seriamos inimigos para sempre! A amizade sendo extinta por determinação judicial. Será que esse juiz já ouviu falar da máfia japonesa, a Yakuza? Ela amputa o dedo mindinho de quem desrespeita suas regras. Uma mensagem clara que aquele sujeito nunca mais vai ficar de bem com seus integrantes. Os mafiosos, quem diria, não esquecem a infância e respeitam a importância do mindinho. Ele é parâmetro para determinar a confiança no homem. Ao relegar o Mindinho aos anais da história como parte da teoria de Darwin, o juiz só considerou a higiênica substituição do Mindinho pelo cotonete no processo de retirar de cera do ouvido. Ele deve ter esquecido totalmente os vários povos em guerra ao redor do mundo. Judeus e Palestinos estão em luta e Bill Clinton (que nunca perdeu a fé no poder do Mindinho), até o ultimo dia de seu governo não poupou esforços para fazer o pessoal da faixa de Gaza entrelaçar os dedinhos e retomar, com gesto tão singelo, o caminho da paz. Mas pela vontade do tal juiz, Palestinos e Judeus nem teriam os Mindinhos. Provavelmente ele ainda era uma criança quando enfiou a cara em livros de leis. Cresceu formulando teorias e agora que vestiu uma toga pensa ter poder para extinguir as possibilidades de paz que restam. Já te ocorreu que seria muito fácil resolver os problemas entre Israelenses e Palestinos, se todos fossem crianças e entrelaçassem os dedinhos ficando de bem? Não me custa, mesmo agora que sou adulto, manter a esperança que a solução do conflito pode surgir num gesto infantil. Os adultos só complicam as coisas, mas enquanto contarmos cinco dedos na mão espalmada, restará esperança de amizade e paz. As esperanças estão no Mindinho. |
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