AI,
MEU MINDINHO!
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Ana
Cristina Geraldini
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Conheço um senhor que lembra o homem de moletom que perambula pelas ruas das cidades. Psicólogo, careca, de bigode, aposentado. Culto, bons modos, inteligente, um pouco gordinho, cardiopata. Colecionador de filmes antigos com mais de 100 títulos, um pouco ansioso, muito distraído e atrapalhado demais. Demais! Uma pessoa ótima, que sempre tem alguma história interessante para contar ou algum vocabulário novo para nos apresentar. Como esse: "Colóquio pouco manso para acalentar bovinos." Traduzindo: conversa mole para boi dormir. No quesito distração, além das clássicas que vão desde entrar com o carro em rua contramão até perder uma máquina de escrever dentro de casa, ele se superou no dia em que estava dirigindo atrás de um caminhão-baú. No carro estavam seu pai, sua irmã e ele, dirigindo e conversando animadamente com eles. A conversa e o percurso já duravam, aproximadamente, uma hora quando o caminhão-baú parou e ele parou o carro atrás. Olhou em volta e se deu conta que estava dentro de um depósito com alguns caminhões e empilhadeiras à sua volta. Ele dirigiu todo o tempo atrás do caminhão e foi parar dentro de um depósito, na zona leste da cidade. Detalhe: ele saiu da zona oeste e precisava chegar na zona sul. Agora na área que classificamos como atrapalhado ou estabanado, tem uma passagem dele que não vi, apenas soube. Certa ocasião, encontrou uma moradora do mesmo edifício. A moça segurava uma criança de uns 8 meses no colo e carregava um pacote com esfihas e uma bandeja com dois copos de milk shake. Ele, mais do que depressa, segurou a porta do elevador para a moça entrar e se ofereceu para ajudá-la a carregar algo. Ela aceitou a ajuda e foi dar-lhe a criança para segurar. Ele, que segurava uma sacola, foi colocá-la no chão para depois pegar o pimpolho. O que se seguiu foi uma seqüência de filme pastelão que, escrevendo, fica difícil, mas vou tentar. O dedo mindinho dele enroscou num saquinho com frutas que estava dentro da sacola. Ele torceu a mão para tentar soltar o dedinho, chacoalhou, virou a mão e nada. O dedo já estava meio roxinho. De repente, ele bateu seu ombro no pacote com as esfihas que caíram no chão. Pediu mil desculpas, contorceu-se e pegou o pacote com a outra mão. O mindinho continuava preso e ele curvado, preso à sacola que estava no chão. Ao entregar as esfihas, bateu na bandeja com os milk shakes. As bebidas cambalearam de um lado para o outro até aportarem no colo da mãe e no pimpolho, que desatou a chorar com o susto e o gelo da bebida. A moça ficou sem ação: em menos de 2 minutos ela perdeu o almoço e ganhou uma criança melecada e aos berros no colo. Ao chegar no andar, ele não se fez de rogado: reergueu-se, pegou a sacola e saiu com o mindinho carregando sozinho todo o peso das compras. Depois de 2 semanas, ele estava esperando o elevador chegar e viu que a mesma moça estava chegando com o bebê no colo. Ele, mais que depressa, pegou o rumo das escadas e subiu os 8 andares num fôlego só. |
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