Quem nunca teve, pode imaginar. Quem já viveu sabe bem como é. Eu não passei por isso, mas me contaram. E foi mais ou menos assim...

- E você já pediu?

- Ainda não... (sorriso, olhar de soslaio , cabeça meio baixa)

- Então pede...

- Não sei se posso pedir o que eu quero.

- Pede. se não tiver agora, a gente encomenda. Eu me responsabilizo pela entrega. Quanto você precisa?

- Quantos quilos você pesa?

- 87.

- É isso mesmo. Exatamente o que eu preciso.

(...)

Eu disse que era conversa de balcão não disse? Poderia ser na padaria, na mercearia. Mas foi no açougue, mesmo.

Foi uma lambança. Quando deram por si, estavam completamente apaixonados. Era coisa de corpo. De carne para ser mais exata...

- Alô!

- Oi, sou eu.

- Oi, tudo bem com a senhora!?

- Ai, já vi que tua mulher está perto...

- Chegou! Chegou o bucho sim!

- Tô com saudades, queria ouvir sua voz...

- Tem! Claro que tem miúdos. Fresquinho!

- Sonhei com você essa noite!

- Músculo, claro! Pode ficar tranqüila, tem bastante.

- Tava tão bom o meu sonho! A gente estava aí, igual aquele dia, lembra? Sabe, perto do balcão refrigerado... foi tão real, o jeito como você me pegava, me dominava...

- É pode ser. Traseira ou dianteira?

- Pára, bobo! Lembra? Eu rasguei sua camiseta...

- Claro! Na serra, a gente corta na serra.

- Te deixei todo marcado de batom...

- É, mancha é fogo...mas sai viu! É só esfregar que sai.

- Esfregar, apertar, morder... Desliga logo esse telefone e vem me ver vai!... Posso te esperar?

- Vamos fazer o seguinte: Eu vou preparar tudo, dou uma amaciada e já, já entrego aí pra senhora. Daqui uns vinte minutos, certo?

- Tá bom. Vem logo, amor. Tô esperando.

- Por nada dona Aureliana. Amém, pra senhora também. Tchau, obrigado.

E foi assim que a dona Aureliana se tornou a freguesa mais assídua do estabelecimento. O problema é que a coitadinha sofria de dores terríveis nas pernas, quase não podia andar. Por isso fazia suas encomendas por telefone! E ele era o açougueiro mais prestimoso da cidade. Além de ser o mais bonito, claro. Atendia com rapidez e eficiência todos os pedidos da freguesa. Ia correndo quando ela ligava. Tudo para poupar as pernas da dona Aureliana. E que pernas...