Tema 007 - SOSLAIO
BIOGRAFIA
COISA DE LOUCO
Maurício Cintrão

Já disseram de tudo. Que ele foi um grande atacante da Seleção da Hungria, ou que medicava tuberculosos nos sanatórios de Helsingue. Ousaram afirmar que é um tipo raro de tecido para vestidos russos, daqueles usados para dançar ao som da balalaika. Falaram mais.

Disseram que nada mais é que marca de remédio para hemorróidas. Que coisa!

Eu sei o que é soslaio e vou revelar aqui, em primeira mão, aos leitores assíduos destes autores tresloucados.

Soslaio vem do grego kvos lahius e significa ser deixado de lado, eventualmente à sós ou, no máximo, com a escória, gente da mesma laia.  O primeiro a usar o termo foi Epíteto, em seu clássico "Malek e os porcos elíadas", quando se referia aos prisioneiros que se vendiam para os guardiães do templo e passavam a ser isolados do grupo.

"Não os olhai nos olhos, irmãos na espúria, ignorai tais criaturas; quando muito, olhai de lado, rapidamente, como se pudésseis ferir os olhos", declara Épislon no capítulo V da grande Jornada das Agruras.

Mais tarde, o termo voltou a ser utilizado, desta vez de forma equivocada, nas narrativas populares do Enigma de Andrômeda, aquela mesma que era homem e mulher e alimentava-se de anêmonas frescas ao amanhecer.

Creditam o engano ao filósofo Decrépito, filho de Vasão e Velocípede, o mesmo que escreveu os 15 Feriados de Hércules, inédito até hoje porque perdido no tempo. Há quem afirme que ele nunca escreveu esse texto e ficou famoso por um escrito não escrito.

Bom, mas esses boatos sempre acompanharam o mundo das artes, desde que as artes são artes e boatos são boatos. Prefiro olhar de soslaio para esses comentários ácidos e seus comentaristas invejosos.

No fundo, acho que todos os críticos gostariam de ser garotos húngaros como ele, o grande Soslaio. Autor de 15 gols na Copa de 42, médico formado a duras penas, famoso pelo tratamento de tísicos, cuja família, de tradição têxtil, criou aquele pano colorido das dançarinas do Berioska. Foi em homenagem a ele, até, que criaram um remédio que cuida de problemas nervosos, eu acho, ou gástricos, sei lá!

E você acredita no que escrevem esses cronistas malucos?

Ah, pare de me olhar assim!

Protegido de acordo com a Lei dos Direitos Autorais - Não reproduza o texto acima sem a expressa autorização do autor