CALENDÁRIO
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Beto
Muniz
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O calendário mais querido e antigo para mim, é o de 1965, ano em que nasci. Guardo como uma relíquia sagrada a ser conferida sempre que meu aniversário está chegando, 25 de fevereiro. O manuseio é rápido. Nele constato o quanto tem resistido às intempéries do tempo. Faço uma comparação besta com o que vejo no espelho, as dobras no canto do calendário são em menor número que as rugas no meu rosto. Estou mais acabado que um pedaço de papel. Levando em consideração que temos a mesma idade, ele dois ou três meses mais que eu. O calendário mais bagunçado que já tomei conhecimento é o da CBF. Alguém consegue explicar o dito? Nem mesmo as pessoas encarregadas de elaborar o tal devem saber como manuseá-lo sem se perder nos meandros a que ele conduz. Os clubes até que se esforçam para cumprir o calendário da CBF, porém, fica complicado convencer a musculatura de seus atletas a resistirem até o final do ano esportivo. O pior é que entra ano e sai ano e a entidade máxima do futebol brasileiro não aprende. Nesse ano, com certeza, vai sair mais uma trapalhada. E já que estamos falando de calendários, vou tentar mostrar o calendário do trabalhador, que é muito interessante. Avisando, antecipadamente, que ele é parte de uma brincadeira e ninguém deve se sentir um vagabundo após minha demonstração. Tudo começa com uma pergunta: Quantos dias você trabalha durante o ano? Vamos fazer as contas: O ano tem trezentos e sessenta e cinco dias, mas para que ninguém alegue cabotinismo ou prejuízo logo na largada, vamos contar como sendo ano bissexto. Trezentos e sessenta e seis dias. Considerando que trabalhamos oito horas por dia e esse período equivale a um terço do dia, você trabalha apenas um terço do ano, ou seja, cento e vinte e dois dias, correto? Errado! Ninguém trabalha aos domingos que durante o ano todo somam cinqüenta e dois dias. Isso reduz sua jornada de trabalho para parcos setenta dias ao ano. Vamos dizer que alguns trabalham aos sábados e outros não, então vou fazer uma média e descontar meio período do sábado (vejam que tento a todo custo ser justo). Se os sábados totalizam cinqüenta e dois dias, como os domingos, e vamos descontar a metade deles, ou seja, vinte e seis dias, do total trabalhados durante o ano, restam ainda quarenta e quatro dias de trabalho. Quarenta e quatro dias para enobrecer o homem... Mas, não esqueça que a lei garante o direito a férias, e qualquer trabalhador sabe que no Brasil o período de férias compreende trinta dias em casa, na boa... Vamos eliminar esse período e ainda sobram quatorze dias para você trabalhar. Que dureza! Antes que você saia reivindicando seu direito de trabalhar quatorze dias, devo lembrá-lo que ainda não descontei os feriados. Contando: Primeiro de Janeiro, Aniversário da Cidade, Carnaval, Páscoa, Tiradentes, Corpus Christi, Sete de Setembro, Dia da Criança, Finados, Proclamação da República e o Dia de Natal, você vai gozar onze dias em casa. Caso resolva emendar pelo menos um feriado, como Carnaval ou Natal, você, o trabalhador fica mais doze dias na boa. Vai dizer que você não emenda nenhum feriado durante o ano? Claro que sim. Portanto, você trabalha dois dias por ano. Ainda cansado? Calma, vou dar mais um desconto. Já que todas essas contas foram efetuadas sobre o ano de dois mil e um, vamos ser justos e descontar mais um dia, afinal, dois mil e um não foi ano bissexto. Conclusão: De acordo com esse calendário, você não tem do que reclamar, pois trabalha apenas um dia por ano. Baita moleza! Esse calendário até parece coisa da CBF... Mas ainda não acabou. Não contei um feriado importante, que é o DIA DO TRABALHO. Alguém trabalha no dia do trabalho?
*Essa brincadeira matemática me foi contada por meu avô, e como não encontrei referências sobre a origem ou autoria, resolvi escrever uma versão. Caso alguém saiba a verdadeira origem, favor comunicar que dou os créditos ao autor. |
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