Tema 005 - QUERO CARINHAS!
BIOGRAFIA
OS DISCOS E O PORTUGUÊS
Viviane Alberto

Não era mais ceticismo. Era perseguição.

- Explica de novo. Você está dizendo que lá tem discos voadores.

- Sim. Os discos voadores aparecem por lá.

- Sei. Ficam voando aqui e ali. Dão uma chegadinha...uma olhada no movimento...

- Eles aparecem. Simplesmente aparecem. Às vezes longe, às vezes perto. Mas estão sempre por lá.

- Estrelas!

- Caindo o tempo todo?

- Satélites!

- Com cinco marchas e zoom? Só se for...Deixa de ser bobo, satélite fica em órbita, girando. São óbvios.

- Aviões!

- Redondos? Sei, não.

- Vagalumes, pirilampos, qualquer coisa, menos discos voadores!

Ele questionava tudo. Desde a localização geográfica até os corredores de vento. Ele acreditaria até na Aurora Boreal em São Paulo, mas nos meus OVNI’s ele não acreditava.

- Ta bom, então. Você já viu?

- Dezenas de vezes.

- De perto?

- Pertíssimo.

- Eles te levaram, né? Você entrou na nave. Foi pro espaço. Viajou... É! É Cannabis isso! Me diz então, como eles eram? Quero saber tudo, quero detalhes. Pequenos? Verdes? Descreva, quero carinhas. Olhos saltados? Sem orelhas? ET, telefone, minha casa? – ele dizia isso apontando o dedo para fazer ‘contato’ com o meu, como no filme do Spilberg.

Esse é o Celso, o Portuga. Não acredita em discos voadores, mas acredita em coisa muito mais improvável. O Português acredita no Amor.

Outro dia, outro bar, ele se pôs a fazer uma pesquisa. Saiu perguntando entre as mulheres presentes quem já tinha ‘Feito Amor’.

Gargalharam na cara dele. Ele descobriu gente que fazia sexo, gente que dava, gente que trepava. E gente que fazia umas coisas que não posso escrever aqui. Uma ainda retrucou:

- Fazer amor? O que é isso, é doce? Vende lá na sua padaria?

Ele não se conformava com o mulherio. Não era possível, alguém tinha que ter transado com uma pessoa que gostasse. Automaticamente, seria amor feito, não seria?

Não me lembro como, nem porquê, mas alguém se lembrou de uma vez, sei lá, alguma coisa entre uma moça e um carneiro...a prosa teve que mudar de rumo e ficou por isso mesmo.

E agora, ele estava ali, encarnando com meus Et’s.

- Eu não acredito nisso.

- Problema seu. Não pedi pra acreditar. Aliás, nem sei porque estou discutindo isso. Eu vi, eu vejo. Pronto.

- Qualquer um vê?

- Claro. Ah, chega! Cansei.

- É só ficar olhando?

- (...)

Mundo besta, esse. A gente vive cercado de gente e vive se sentindo sozinho. A gente tropeça nas pessoas na calçada, mas prefere falar sozinho, enquanto toma banho. Se um problema toma conta da nossa cabeça, a gente procura logo uma sala, uma porta, uma tranca, pra remoer – sozinho – o problema.

A gente constrói satélites, antenas, radares. Temos estações espaciais. Tem gente morando no Espaço. Até uma cadelinha já deu suas voltinhas por lá.

E, quando uma nave qualquer, um disquinho de nada, resolve responder aos nossos recados, as pessoas reagem desse jeito, incrédulas.

Meu amigo Celso tem que saber que os discos voadores daqui são um fato. Eu os vejo quando quiser, basta ficar olhando. Já o tal do Amor em que ele acredita... Mas continue procurando por ele, Portuga. Quem sabe um dia você não o encontra. Ou ele encontre você. De repente, ele te pega e te leva pra uma viagem. Uma viagem igual a minha.

Daí, será minha vez de duvidar!

* * *

P.S.: O Celso, que absolutamente não acredita em discos voadores, me deu um disco que veio “voando”, pro acervo de relíquias aqui de casa. O ‘Estúpido Cupido’ já está guardadinho. A salvo dos ovni’s daqui.

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