FLOR
DE SEBO
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Luís
Valise
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Diana-caçadora, pára de ligar, porra! Se manca, sai dessa, cai fora! Todo dia, toda hora, toca o telefone, ele tem que atender, pode ser trabalho, mas não, é você com sua voz de sorvedouro insistindo em que ele creia novamente que esses suspiros vêm do fundo da sua alma, mas agora ele sabe que vêm da superfície pantanosa do seu caráter, que vive de sugar ilusões alheias como um berne na orelha de um touro. Diana-miragem, no rádio do carro uma música que foi de vocês. Ele troca de estação, cai noutra que também poderia ter sido não fora a revelação que lhe surgiu como a virgem aos pastores, num contraluz que seria apenas um contorno de nuvem, mas o raio que o atingiu mostrou que não era apenas mais uma nuvem, porém um cebesão daqueles, preto e carregado, dos quais pilotos experientes fogem como o diabo da cruz, e no qual ele entrou menos por inexperiência e mais por cegueira, mesmo. O amor cega e consome. Diana-sugadora, deitado no escuro, tarde da noite, ele te afasta do pensamento mas só em pensamento, porque insistes em ficar ali ao seu lado murmurando palavras de amor, ai dele, que pensa em quantos mais estarão agora te afastando em pensamento, que teu visgo entranha, bactéria encapsulada que circula livremente pelas veias, preferindo aquelas que levam ao coração. Estreptococa. Diana-diábola, ele tapa os ouvidos ao som da cítara cínica que escapa do teu sarcófago de múmia tântrica. Ele evita as encruzilhadas em que deitas os ebós com bodes degolados a Exú para que ele não escape do teu círculo de giz. Cobra de Gizé. Diana-viral, o coração do pobre tomado pelo eczema purulento, o sangue tornado verde, o riso lembrando gemido de agonizantes, o respirar não o arfar que antecede o gozo mas a sororoca que prenuncia a hemoptise, que espero há de tingir de rubro tuas róseas gengivas no último beijo indesejado, ele boca cerrada evitando o serpentear da tua língua bifurcada, a ácida saliva, o hálito pútrido como um cárcere de gangrenados. Diana-vampírica, ele tem um dente de alho; ele tem uma bala de prata; ele tem uma estaca de ponta pronta para transfixar teu seio esquerdo. Depois arrancar e exibir teus caninos recurvos. E finalmente te enforcar numa corda tecida com teus longuíssimos pêlos pubianos. Diana-nunca mais, ele finalmente liberto, podendo deitar-se em paz reconquistada, o que faz. Em seu rosto agora sereno percebe-se o reaprendizado do sorriso. Suas mãos podendo restar descansadas sobre o peito. Longe do caixão, junto à parede, Diana mantém os olhos fixos na presa que lhe escapuliu, sem incomodar-se com a gorda varejeira pousada em seu ombro. |
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