O
PRESENTE
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Celso
Rab Lage
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Sempre fui uma pessoa tranqüila, equilibrada e racional. Durante estes meus longos 30 anos de existência, poucas coisas me tiraram do sério. E, para minha pessoa, tirar do sério é elevar a voz em público. Juro que não sou machista diria que sou defensor das idéias masculinas -, portanto, me adaptar aos padrões femininos de compras me estressa. Ainda lembro aquele dia, final de campeonato paulista. Sábado à tarde. Estava eu preparado com as pipocas quentinhas e a cerveja estupidamente gelada quando adentra à sala a minha digníssima esposa: - Não vai dizer que você esqueceu o aniversário de Mamãe?, indaga ela com aquele olhar fulminante. Eu, que havia me preparado psicologicamente para torcer contra o corinthians, já começava a arquitetar um plano para matar a minha sogra, fato logo apagado da memória em virtude de um enterro demorar mais que um aniversário. - Claro que não esqueci amorzinho. Respondi eu, na maior cara de pau. - Que bom amor, onde esta o presente? É incrível como nós, os homens, temos a capacidade de esquecer as coisas que nossas esposas nos falam e, mais impressionante ainda, é a velocidade que arranjamos uma desculpa de última hora. - O entregador da loja ainda não trouxe o presente? Pergunto eu, com a maior sinceridade. - Não, e se não aparecer em dez minutos, você me leva no shopping. Nessa hora é que você lembra do seu amigo solteiro, aquele farrista convicto, que a essa altura do campeonato deve estar no melhor barzinho da cidade, rodeado de loiras, tanto quentes quanto geladas, tranqüilo, feliz, apenas esperando o jogo começar. - Mas Viviane, eu já comprei o presente, e o jogo vai começar em dez minutos. Se o entregador não aparecer, segunda-feira eu mesmo entrego o presente para ela. - Nem pensar! Onde já se viu? Prometi para minha mãe que daria o presente para ela hoje. - Mas querida... - Nem mas, nem menos!, responde ela já confundindo as letras e equações. Bom, como eu já sabia que nenhum entregador iria mesmo aparecer, e, já prevendo a pentelhação na hora do jogo, resolvi levá-la ao shopping. Dominado! Frouxo! Traidor da ANMB ( Associação Nacional dos Machões Brasileiros). Imagino todas essas belas palavras nas mentes masculinas, mas, o que vocês se esqueceram é que todo shopping que se preza tem um telão e um chopp geladíssimo. Mal havíamos entrado no shopping e ela já pergunta: - Onde você comprou o Púcaro? - Hã? - O Púcaro Búlgaro. É o presente que mamãe queria e que eu pedi para você comprar, não lembra? Em que loja você comprou, Adalberto? - Nossa querida, aquela pipoca que eu literalmente engoli goela abaixo, esta me dando uma cólica! Vou ao banheiro, não saia daqui. É amigos, nesse dia eu pensei que a vaca iria para o brejo. Nem imagino o que é essa coisa que ela pediu, e pior, nem lembrava que ela havia pedido. Mas, quem tem um celular WAAP (ganhei 2 chopps pela propaganda), nunca está sozinho. Acessei a net, procurei o tal Púcaro Búlgaro, encontrei uma loja que possuía um estoque infinito de púcaros búlgaros, pois o dono era o Sr Putchenko, maior fabricante de púcaros da Bulgária, e incrível, no mesmo shopping que eu estava ( juro!). Encomendei, paguei com o cartão Visa (mais dois chopps) , molhei a cara para demonstrar um certo ar de sofredor devido a demora, e saí do banheiro. - Que demora amor, lembra quem eu sou? Parece que sua cabeça diminuiu. - Muito engraçado. Quer pegar o presente ou não quer? Não preciso contar que o resto da tarde foi uma felicidade só. Peguei o segundo tempo do jogo, minha esposa estava feliz por ter um homem tão correto e prestativo, o Corinthians perdeu o campeonato e o chopp Brahma (mais dois!) estava uma delícia. Tudo isso por causa de um bendito Púcaro Búlgaro. |
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