NO
CÉU
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Viviane
Alberto
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Desde pequenos , tratam de nos incutir na cabeça algumas informações básicas pra nossa sobrevivência. Nosso nome, o do papai, o da mamãe, a nossa idade - que não são números, mas uns dedos que nos ensinam a mostrar. E o nosso signo. Sim, aprendemos qual é nossa posição no Zodíaco antes mesmo de descobrirmos o ABC. E muito, mas muito antes de aprender que zabumba se escreve com Z. Mesmo que , nunca na vida, a gente venha a saber pra serve uma zabumba. Mas isso não importa agora. A impressão que eu tenho é que não conseguimos viver sem uma inquietação. Um misteriozinho, que seja. E respostas. Nós precisamos de muitas respostas, sempre. As perguntas são proferidas aqui mesmo, na Terra. Mas as respostas, nós procuramos no céu. Há quem olhe e veja apenas estrelas. Nuvens que se parecem com animais. Hoje de manhã, enquanto pensava nessa crônica, eu olhei pela janela esperando uma revelação. Um sinal. No céu azul, obviamente celeste, de um dia ensolarado de arder os olhos, um urubu voava sozinho. Círculos e mais círculos do seu balé que me deixava tonta. E frustrada. Nem uma andorinha, um pardal. Só aquele urubu. E eu morri de inveja daqueles que conseguiriam enxergar um significado astral naquela ave tão mal acabadinha. O mistério dos astros vai além do dia e da noite. Ele inclui também as horas. E o Zodíaco. Que nada mais é do que uma esfera celeste, com as doze constelações que o sol percorre saltitante, durante o ano todo. É aparentemente simples retratar um indivíduo astrologicamente. Passado, presente e futuro são estabelecidos pela posição que os astros ocupavam no espaço, assim como se comportavam as constelações, no momento da natividade. Do primeiro berro, pra ser mais clara. Uma fotografia cósmica e definitiva, retratada num quadro de interpretações geométricas, matemáticas e filosóficas. Metafísicas, também. No mundo, somos bilhões. Mas nos dividimos em apenas quatro elementos: Terra, Fogo, Água e Ar. A falta de conhecimento técnico não me permite fazer grandes considerações, mas, o básico, todo mundo sabe: fogo com água é ruim, água com terra é bom, fogo e ar é uma loucura maravilhosa e terra com ar o vento leva. E a gente vai convivendo com isso. Ninguém confessa, mas sempre dá uma espichadinha de olhos no jornal, de manhã. E se depara com pérolas do tipo: " o racional é um carro, a intuição é um avião, você escolhe"; "agir é necessário, mas a cautela é inadiável" ou " atrevimento é a ordem do dia, mas a lua estará fora de curso". Acreditar ninguém acredita, imagina. Mas, na duvida, não faz nem isso, nem aquilo. Fica em casa assistindo televisão até o período nebuloso passar. Há muito tempo assumi que não sou uma pessoa normal. Sou, no máximo, um daqueles brinquedos Lego, que alguém esqueceu de desmontar. E minhas pecinhas coloridas divergem o tempo todo. Um pedaço de mim é todo cético. E vê no Sol apenas o astro que possibilita a fotossíntese e amadurece os cachos de uva. Já uma outra parte é filha de Afrodite. E conta nos dedos quantos dias faltam para a Lua cheia chegar. Independentes dessa minha personalidade multicrença, os astros continuam lá, onde sempre estiveram. Orbitando, indicando os caminhos para quem procurar neles as placas. Tem gente que faz seu próprio mapa. Tem gente que segue as estrelas. Eu continuo em círculos, assim como o urubu desta manhã. Qualquer dia desses dou um rasante e vejo no que vai dar. Vou com calma, mas sem medo. Esperarei até que o Sol transite por Júpiter. Sou Sagitário. Sou Fogo... |
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