Tema 002 - ALICATE
BIOGRAFIA
OBSERVANDO A CUTÍCULA E OS ARREDORES...
Rosi Luna

No curso de roteiro aprendi uma coisa com o Doc Comparato, o nome do personagem é muito importante. Ele precisa combinar com a personalidade. Quando escolhi liliquinha, na verdade queria lilica e hoje tenho me adaptado bem a lili, combina comigo.

Essa estória é de ficção, mas é quase real. Quer conhecer dois personagens absolutamente normais e um alicate, então fecha os olhos e abre as orelhas. risos.

Ela se chamava Romi Enaide, na realidade seu pobre papi fã ardoroso de Romy Schneider, ficou com Sissi na cabeça, e claro batizou sua filha homenageando a atriz.

Ele se chamava Febrônio nome de família, também pudera um nome tão horroroso assim não podia existir por apreciar o nome. Fico imaginando o Febrônio novinho e com febre. Como era horrível de falar sobre a febre do Febrônio, com esse nome dava pra imaginar ele sempre com o maior febrônio ou o maior febrão!! 

Eles se conheceram num cursinho universitário, Febrônio era professor de história e Romi era vitrinista numa loja de Departamento, trabalhava de dia e estudava de noite. Olha como foi confusa a estória dos dois. Mas no fim tiveram um happy end cheio de love story.

ALICATE PRA QUE TE QUERO?  

Romi estava cansada, como aquela vitrine da seção de roupa de cama tinha dado trabalho, mas compensava aos olhos, tinha ficado linda. Os lençois macios, limpinhos e cheirosos, pareciam convidativos depois de um árduo dia de trabalho. Ela ainda teria que ir para o cursinho, o que animava um pouco, era a aula do professor de história.

Ela sonhava com ele ali falando aquelas datas, vendo todas aquelas batalhas. Romi morria de mêdo dele, afinal as duas datas que sabia decorado era sete de setembro e a do descobrimento do Brasil. Já imaginou uma conversa com um professor de história sem falar em datas, sem falar em batalhas e em vultos históricos. Ela tinha receio de se aproximar. Quem sabe, se um dia encontrasse ele fora daquele lugar em que todos o conheciam. É que não ficava nem bem, um relacionamento entre aluna e professor.

Ela o observava de longe, foi conquistando ele aos pouquinhos. Primeiro comentou do livro novo que tinha comprado, do Eduardo Bueno. O livro chamava "Brasil: Terra à vista". Ele claro deu aquele sorriso de quem quer dizer, estou gostando de ver. Romi foi soltando um  batalha aqui outra ali. Foi lembrando do Grito do Ipiranga.

É claro que ela dava sempre uma conotação diferente ao que estudava, pensava não em D. Pedro gritando, mas nela mesmo gritando de alegria e falando.

- Se é para felicidade geral da nação diga ao povo que fico.

Ela gostaria de ficar. Sabe ficar assim sem compromisso, sem história, sem futuro, sem passado. Simplesmente ficar. E ficar com ele. Não era com D. Pedro não. Como era difícil conquistá-lo, ele parecia tão preparado, podia enfrentar até uma guerra. Ela ficava tão indefesa diante das argumentações do tão esmerado professor. 

Mas destino é destino, e pronto. Acontece como um acidente, de repente vem e atropela tudo. E paixão é paixão também vem e atropela tudo e todos. E Romi decididamente estava encantada, apaixonada, avoada, atropelada e todos os adas possíveis.

Romi estava lá dentro da vitrine do seu trabalho e viu o professor passando na rua. Deixou cair o alicate que estava nas sua mão fechando um enfeite. Mal conseguiu pronunciar o nome, arriscou um Fê... não conseguiu falar o resto. Se recusava a falar Febrônio. Bateu no vidro, e ele viu. Uma cena um tanto quanto surrealista, uma mulher dentro de uma vitrine. Mas ele apreciou o que viu.

Ele atendeu o chamado, conversaram um pouco e marcaram de se encontrar em meia hora. Romi explicou.

- Vou só achar o alicate que derrubei e pronto.

Ele atordoado pergunta.

- Mas para que você precisa de um alicate agora, vai fazer as unhas?

Romi riu e disse.

- Claro que não, preciso achar para fechar umas argolas do enfeite de Natal da vitrine.

Romi estava tão enlouquecida de felicidade que na hora nem lembrou do alicate. Mais tarde já na casa do Professor, jantaram e não falaram em datas e nem em batalhas. Os nomes também perderam a importância. Ali era apenas um homem e uma mulher, não perguntaram nada, só se amaram. Ficaram unha e carne. Romi só foi lembrar quando o Fê perguntou.

- Achou o alicate?

Ela rindo disse sarcasticamente.

- Não, mas é amanhã que vou fazer as unhas.

*****

FEBRÔNIO E ROMI ou melhor FÊ e RÔ... love... love... love... foram felizes durante uma crônica. Isto pode ser muito ou pouco. Não sei quanto tempo é a vida útil de uma crônica.

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