IMAGINE
THERE'S NO HEAVEN
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Maurício
Cintrão
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Certa vez, em uma de suas colunas, acho que ainda na Folha, o Paulo Francis escreveu que a Yoko Ono tinha aquilo de alicate. Nossa, na época, foi a maior polêmica! Os fãs do Lennon se horrorizaram. As feministas estrilaram. Os machistas deliraram. Os GLSs nem ligaram. Os religiosos se persignaram. E a tiragem do jornal aumentou. Esse era o Francis, um gênio em se tratando de gerar polêmicas. Confesso que fiquei um pouco chocado com a figura de linguagem. Poxa, muitas mulheres são dominadoras. Mas daí a creditar propriedades de ferramenta de mecânico à ferramenta dela, aí eu acho que foi exagero. Especialmente com aquele tom de castradora e dominadora, que ele usou no comentário. Mas, sabe o que li na Revista Nova outro dia? Uma matéria ensinando as moças (e as nem tão moças) a fortalecerem a musculatura daquilo. Isso mesmo, exercícios para, como diria, hum... aumentar ... a... pegada, vamos chamar assim. Um verdadeiro manual do alicate de prazer. Puxa, eu sabia que as academias andavam se especializando ao extremo, mas jamais imaginei que houvesse exercícios tão localizados. Fiquei vivamente interessado, é claro. A revista relacionava (com fotos) alguns equipamentos para favorecer a mini-musculação, desde pequenas esferas parecidas com bolinhas de golf até uma nova variedade de massageadores exóticos. Isso sem contar, é evidente, um guia sugerindo toda a sorte de movimentos pélvicos. Coisa de fazer inveja ao Elvis. Lembro que a parte mais interessante envolvia o depoimento de uma atleta do gênero, que dizia exercitar-se nos congestionamentos. Calma, ela não falava em exercícios com equipamentos. É que a matéria ensinava, naquele ponto, um movimento de contração e relaxamento da musculatura local. E a moça dizia que fazia tão bem esse pega e larga imaginário que, quando partia para o bem-bom, tirava (entre outros) aplausos do namorado. Depois disso, devo confessar, toda a vez que estou preso em congestionamento e emparelhado com alguma moça de cenho franzido e olhar concentrado, lembro daquela atleta. E fico rindo, até porque é pura maldade. Nem todas as motoristas lêem a Nova. E nem todas que leram a matéria viraram atletas. A vizinha de automóvel pode estar pensando no cheque sem fundos ou em algum curso no exterior e eu, com aquela cara de safado, ali, rindo, feito voyeur de prateleira de sex shop. Puxa, depois dessa matéria, enxergo os alicates e os comentários ácidos de colunistas com outros olhos. Apesar de toda a sua vivência, o Francis não percebeu que os eventuais dotes da Yoko talvez não fossem castradores ou dominadores. Acho que o alicate em questão era libertador. Complicado é imaginar se der cãimbras. Contrai mais? |
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