Tema 001 - FIM DE FEIRA
BIOGRAFIA
RESCALDO
Viviane Alberto & Lena Chagas

Tudo o que é bom dura pouco, um dia acaba. E o que é ruim, também. Mas, estranhamente, o bom quase sempre acaba muito mais rapidamente que o ruim. Casamento, por exemplo. Quando dá certo, é bom mas por muito pouco tempo e acaba antes mesmo de começar a ficar ruim. Nesse caso, já deu errado! E quando dá errado, leva tempo, muito tempo, até que as pessoas admitam que não deu certo e que cada um deveria seguir o seu caminho. Muitas vezes passam a vida acreditando que deu certo porque não querem admitir que deu errado ou por tantos outros porquês. Mas a questão não é essa, neste momento. Falávamos na fugacidade do bom e na perenidade do ruim. Temos um exemplo latente que está nos jornais e na nossa cara: a ditadura no Peru. Depois de 10 longos anos, Fugimori entrega a rapadura, digo, a presidência, e renuncia. Coisa ruim é assim: dura anos, uma década ou muito mais! Nunca dez dias ou dez minutos! Do ponto de vista dele deve ter sido um piscar de olhos! Mas falo do ponto de vista dos prejudicados e não de quem levou os louros. Temos lembranças amargas desse tempo, por aqui, também. E teríamos dezenas de outros exemplos mais.Desnecessário. Sabemos e sentimos na pele, que é assim. Não se trata de um posicionamento pessimista ou amargurado, muito menos de uma questão fechada, um sacramento. São apenas constatações do cotidiano, da vida da maioria das pessoas. É só ouvir o que corre frouxo pelos becos e bocas, por toda parte. Sempre há alguém dizendo que a felicidade se foi com o vento. Assim, num sopro.

Vai ver que é porque todo final tem um pouco de abismo. E a gente tenta se agarrar a tudo, qualquer coisa que possa manter nossos pés em terra firme. Ou naquilo que queremos acreditar ser terra firme. Mesmo que o terreno seja arenoso, mesmo que exista erosão. O que a gente não quer, é pular.

O que mais, senão o medo, justificaria o arrastar de correntes de um amor morto? Um fantasma silencioso que permanece na mesma torre, pornão acreditar que exista um outro lugar, qualquer lugar, para onde ele possa ir.

Qual a razão de ser, da servidão social milenar? Onde a maioria se submete à uma elite pequenininha, por puro temor. Por não ter certeza do que está escondido atrás da cortina do NÃO, do CHEGA. Essas palavras que a gente custa tanto a pronunciar.

E sempre que  alguma coisa acaba, seja ela boa ou ruim, a primeira sensação que temos é a de desmanche,  desmoronamento, fim de feira. A mágoa, que muitas vezes acompanha esses momentos, não permite que enxerguemos brilhos nem boas lembranças que estão por ali, misturados. Se houve felicidade, muitas emoções fizeram parte dela. Mas a gente só vai voltando a enxergar, na medida em que o tempo passa. Parece tolo, mas só a distância traz essa lucidez. E sem final, não há recomeço. Uma coisa puxa a outra, não é mesmo? Só quando a gente se coloca bem no meio dela, é que percebe que a vida é uma espiral. E a nossa sobrevivência depende de conseguirmos chegar à saída, ao recomeço. Do rescaldo, que fiquem as coisas boas, as emoções vividas e divididas.

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