A
VOLTA
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Viviane
Alberto
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Eu não inventei. Vi tudo nos jornais. Voltou a minissaia. Quase trinta centímetros acima dos joelhos desde que não sejam os meus, claro. Porque senão, deixaria de ser uma saia para se transformar num cinto a invenção da inglesa Mary Quant ressurge do fundo dos guarda roupas pra apimentar, ainda mais, nosso verão já tão tropical. O regresso do cabelão. Depois de décadas de cortes no estilo Joãozinho, com as mulheres tosando suas melenas em nome da praticidade que a vida moderna exige, reaparece a mulher de longos cabelos. Lisos ou crespos. Em camadas. Mil cores, mas todas de uma só vez. Inventaram até umas pomadas especiais agora. Servem para deixar os cabelos com uma aparência mais suja... É o tal do hippie chique. Se é que isso existe... E os peitos quem diria! também voltaram. Não se sabe se as top models de uns anos atrás morreram de anorexia ou foi, simplesmente, o triunfo da verdade sobre a imagem. O fato é: podemos ter peitos em paz. Não precisamos mais parecer-nos com delgadas tábuas de passar roupas. Nada de andar por aí de ombros caídos. De cabeça e peitos erguidos (naturalmente ou com a ajuda de um bom super up) podemos seguir em frente. E o biquíni? Alguém aí se lembra dele? Então, voltou também. Depois da tanga, do asa delta, do fio-dental e do top-less (com repressão e tudo), os biquínis estão na área novamente. Grandinhos até, viu. Alguns se parecem com shorts. Ainda bem, porque, com o rumo que as coisas estavam tomando, não ia ser fácil suportar o incômodo da areia em contato com... bom, todo mundo sabe que areia incomoda. E todos esses retornos, essa onda revival, pode ser muito rica, pode trazer muitos detalhes do passado que a gente se esqueceu ou nem conheceu. Mas, por outro lado, também me dá uma sensação de mesmice, fim de feira. Parede que, na falta de algo novo, ficam reinventando o que já deu certo. Aproveitando a serpentina de outros carnavais. E eu já estava conformada com isso, quando vi voltar devagar, escondida, mas com um bom pedaço de garra pra fora, nada mais, nada menos do que a Censura! Tudo muito bem disfarçado, maquiado e a Vera Fisher até foi tirar foto ao lado do Presidente. Acho que estão tentando nos enganar. Se por um lado, existe uma super-exposição do corpo na televisão, eu, pelo menos, prefiro os corpos vivos. Fico mais chocada com o noticiário. Mas, vai entender. E , além disso, não me lembro de alguém já ter me obrigado a assistir a um programa bizarro na tv. Todas as vezes em que perdi tempo com uma programação ordinária, foi por livre e espontânea vontade. Sinceramente, eu gostaria que continuasse assim. Que minha imbecilidade fique livre pra crescer o quanto quiser. Já tomam tantas decisões sem a minha vontade. Os decretos não estão aí pra isso mesmo? E, não fomos nós que escolhemos os homens que assinam? Então, me deixe controlar, pelo menos, o dial do controle remoto. Se eu tiver que pensar melhor antes de escrever daqui pra frente, prefiro não escrever mais. Antes muda do que falsa. Tomara que isso tudo seja um alarme falso. Tomara que o governo se contente em interferir na minha vida, apenas com a educação meia boca que ele me proporcionou. Do resto, prefiro cuidar sozinha. E de minissaia, que é pra casa cair de uma vez. |
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