TODA
FEIRA
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Luciana
Franzolin
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O movimento começa bem cedo, para quem não acordou, e bem tarde, para aqueles que ainda nem foram dormir. Nunca morei perto de uma feira, mas agora, nesta rua São Paulo, de Londrina, Paraná, duas vezes por semana tem Feira Livre. Da janela comecei a observar, ás vezes muito tarde, ás vezes muito cedo. Tirando os feirantes, os primeiros a chegar são os malucos, no muito bom sentido, que lá pelas quatro da manhã, final da noitada, sentem fome e resolvem comer um pastel. O velho e bom pastel de feira. Pastel da D. Larica. Os cachorros também chegam cedo. Como há cachorros na feira! Sempre farejando um naco. Depois surgem as peruas Kombi lotadas de alimento e gente, que sem cansaço começa a erguer estruturas, que ao nascer do sol, enchem as ruas de cores, cheiros e sabores. Essa gente planta, aduba e colhe. É gente bonita, velha, nova. Gerações de feirantes que resistem ao tempo e aos supermercados. Na feira há espaço para muitos, o que vende biscoito de polvilho e usa chapéu de Lampeão, o "tio" do algodão-doce, o que vende guarda-chuva, desentupidor de pia, o cantor cego violeiro, o palhaço triste que faz poodles com balões. Tem até um japonês massagista! Do-in. Quem consome é avô, médico, mãe, estudante, professor, dentista, advogado, escritor, madame, jornalista, criança, ator, esportista, naturalista, comerciante, bancário, músico, vereador, desempregado, empresário, operário, e quem mais se pode imaginar. Até freira aparece na feira. Pelo menos na da rua São Paulo, santa feira. Tem uma banquinha de "granola", pão integral e mel. Cada dia é uma pessoa ali vendendo. Pensei que fossem hippies pelo visual, cabelo comprido amarrado, roupa largada, mas são da comunidade "doze tribos", adoram um deus "Yashua", que é a mistura de Jesus com Joshua, Youssef, e não sei mais o que. Acho que tenho cara de quem vive em comunidade. Quando passo por ali, imediatamente um deles me chama entre todas as pessoas, e me entrega um folheto, com o endereço da chácara, telefone para contato, e o informativo bilingüe das doze tribos, espalhadas por todo mundo. O último falava sobre uma formiga extra-terrestre. Eu leio. Digo que sou Shivaista, venero Pashupati. Balanças honestas, quilos, duzias, bacias prateadas, moedas. Me divirto olhando os carrinhos de feira. Tão velhos quanto a feira. Coloridos, com verdes saindo pra fora, arrastados parecem vivos. Tudo é vivo, o vai e vem das pessoas, o movimento da venda. Chato mesmo é o fim de feira, morto. Um tomate meio desgraçado, um balão estourado. Lonas dobradas, guardadas, caixas fechadas. Kombis vazias, gente cansada. Restos de carnes, de folhas, de cheiros. E cachorros, sempre farejando um naco. E malucos, sempre querendo um pastel. |
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